A partir da construção do
projeto de aprendizagem foi possível perceber, considerando as nossas dúvidas
temporárias que a cultura digital não é trabalhada com os alunos, ela deve ser construída, mas na escola, o computador é utilizado numa perspectiva instrucuionista que segundo Valente (1998, p. 2)
O uso do computador como máquina de
ensinar consiste na informatização dos métodos de ensino tradicionais. Do ponto
de vista pedagógico esse e paradigma instrucionista. Alguém implemente no
computador uma serie de informações e essas informações são passadas ao
aluno na forma de um tutorial, exercício e pratica ou jogo.
Neste sentido, observou-se
que os professores apenas usam o computador para trabalhar conteúdos através de
jogos que são estipulados pelos professores e onde os alunos seguem uma ordem
linear para jogar, não havendo possibilidade de criar ou construir.
Quanto à formação especifica dos professores para atuar no espaço digital da
escola, vimos que as escolas não exigem formação específica para atuar na sala
do EVAM, sendo que qualquer professor pode atuar, porém pensamos que os
docentes precisam se capacitar para atuar com os alunos neste espaço, pois
possibilita aos professores trabalhar com as tecnologias numa perspectiva
construcionista, na qual, segundo Valente (1998) o aluno constrói seu
conhecimento. Também para que a cultura digital possa ser introduzida no espaço
da escola de forma gradual, fazendo uso da tecnologia para promover a interação
e construção de conhecimentos. Conforme Schlemmer (2006, p.40)
A formação
docente precisa ser repensada, e novas estratégias precisam ser previstas, em
função de novas formas de pensamento, de expressão e relação entre sujeitos e
grupos que estão emergindo dentro de recentes paradigmas das ciências na cultura
tecnológica. Mais do que nos adaptarmos às TDs, é necessário que sejamos
protagonizadores, autores dessa realidade.
O professor precisa ter uma formação docente que contemple as
tecnologias digitais, vistas com um outro olhar, dentro do paradigma construcionista,
se colocando como mediador da aprendizagem. O professor tem o papel de
acompanhar e organizar as aprendizagens, estimulando a troca de saberes, mediar
as relações e direcionar os caminhos da aprendizagem (LÉVY, 1999).
As atividades realizadas nos ambientes digitais da escola
trabalham com conteúdos que não tem conexão com o que está sendo trabalhado na
sala de aula, pois não há diálogo entre professores da turma e do EVAM,
resultando em atividades que reforçam um paradigma instrucionista, focado no
ensino e onde o aluno não tem autonomia para criar, ficando apenas restrito a
jogar jogos previamente estabelecidos e que seguem regras sem possibilidade de
construir conhecimentos.
Quanto as nossas certezas provisórias, percebe-se que muitas não
se confirmaram, mostrando uma realidade diferente do que pensávamos. Vimos com
nossa pesquisa que a cultura digital não faz parte do ambiente escolar, pois
apesar de a escola ter computadores e softwares o uso que se faz nestes espaços
não condiz com o que propõe os princípios da cultura digital, portanto a
cultura digital não está presente na escola na Educação infantil e anos
Iniciais pesquisadas. Conforme André Lemos a cultura digital é a cultura da
leitura e da escrita e seus princípios são a liberação da emissão que é poder
escrever sobre o que se lê, ser um crítico do que se lê, conexão generalizada e
aberta falar livremente e juntar ideias com os que pensam da mesma forma e a
reconfiguração que é poder conversar. A criança, na escola, não faz parte da
cultura digital, pois elas não podem criar e nem questionar sobre o que está
proposto, apenas seguem as regras.
A criança de hoje nasce na era da cultura digital, mas não
significa que, por isso, ela esteja inserida nessa cultura. A criança só está
inserida na cultura digital, quando seu acesso ao computador contempla os
princípios da cultura digital, explicitados segundo André Lemos. Há crianças
que em casa, com uso do computador conseguem se inserir na cultura digital,
conversando e escrevendo sobre o que lêem, outros, porém, ainda ficam passivos
somente lendo, sem questionar ou refletir sobre.
A criança tem motivação intrínseca com as tecnologias digitais,
pois na era da cultura digital, onde as crianças são “nativos digitais”,
elas estão imersas em um mundo repleto de tecnologias para serem utilizadas com
e por elas. Essa geração da informação explora diferentes tecnologias de
informação e estão habituados a mexer com isso desde muito
pequenos. Conforme Schlemmer (2006) os “nativos
digitais” se relacionam e se comunicam de forma diferente com a informação, e
tem outra forma de conviver com as Tecnologias Digitais-TDs.
O computador é um instrumento de aprendizagem, conforme Rabardel
(apudt Borges, 2004) os instrumentos tecnológicos tinham uma abordagem
tecnocêntrica que agora é uma abordagem antropotécnica dos instrumentos onde o
sujeito cria , modifica e usa o instrumento, mas numa esfera coletiva e não
apenas individual. A partir do uso do computador o aluno pode construir
aprendizagens interagindo com os outros.
A partir das entrevistas e observações realizadas percebeu-se que
o EVAM não interfere na aprendizagem da sala de aula, pois conforme as
professoras da turma da Educação Infantil e dos Anos iniciais (2ºano),
igualmente relataram, não participam das aulas do EVAM somente indicam os
conteúdos que devem ser trabalhados pela professora do EVAM. Sendo assim, não
há uma interação entre as professoras e os planejamentos são feitos
separadamente por cada uma, além de elas relatarem que não percebem nenhuma
relação do que os alunos aprendem no EVAM com a aprendizagem em sala. Cada
espaço trabalha isoladamente, não havendo interdisciplinaridade.
Conforme nossa pergunta norteadora a Educação infantil e Anos
iniciais podem fazer parte da cultura digital utilizando o espaço do EVAM da
escola de forma que eles possam construir conhecimentos, trocar ideias em rede,
construindo redes de conhecimento e fazendo uso das TICs para conversar e
construir conhecimentos, mas para isso é necessário uma postura diferente dos
professores como afirma Almeida (2005, p. 73)
O
professor atua como mediador, facilitador, incentivador, desafiador,
investigador do conhecimento, da própria prática e da aprendizagem individual e
grupal. Ao mesmo tempo em que exerce sua autoria, o professor coloca-se como
parceiro dos alunos, respeita-lhes o estilo de trabalho, a co-autoria e os
caminhos adotados em seu processo evolutivo. Os alunos constroem o conhecimento
por meio da exploração, da navegação, da comunicação, da troca, da representação,
da criação/recriação, organização/ reorganização, ligação/religação,
transformação e elaboração/reelaboração.
Portanto,
com a construção deste projeto de aprendizagem que envolveu pesquisa no espaço
escolar e busca de referencial teórico, percebemos a sua importância para nossa
formação docente, pois nós professores, precisamos estar sempre nos atualizando
para desenvolver uma prática pedagógica com intencionalidade, onde o aluno
possa ser autor do seu conhecimento, valorizando seus conhecimentos prévios e
criando formas de interagir com os outros, para que ele possa construir novas
aprendizagens de forma critica, tendo liberdade para falar sobre o que está
vendo, lendo. Percebemos que as tecnologias digitais podem ser utilizadas de
modo a construir conhecimentos, dependendo apenas de como o professor faz uso
delas. O professor precisa abrir espaço para a cultura digital, que se
desenvolve coletivamente, formando sujeitos críticos, autônomos e reflexivos e
não sujeitos que apenas reproduzem.
Referências:
ALMEIDA, Maria Elizabeth
Bianconcini. Tecnologiana escola: criação de redes de conhecimentos. In:
ALMEIDA, Maria Elizageth Bianconcini; MORAN, José Manuel (Org.). Integração das
Tecnologias na Educação: Salto para o futuro. Brasília: Ministério da Educação,
Seed, 2005.
BORGES, Martha Kaschny. Educação e tecnologias
digitais: uma proposta de inclusão digital destinada a professores em formação.
Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/133-TC-D2.htm Acesso em: 23/11/12.
LEMOS, André. Cibercultura.
Tecnologia e Vida Social na Cultura Contemporânea. Porto Alegre: Sulina, 2002.
(Conclusão: Cibercultura – p. 256 – 262).
LÉVY, Pierre. Cibercultura.
São Paulo: Editora 34, 1999, p. 170-171.
SCHLEMMER, E. O Trabalho do
Professor e as Novas Tecnologias . Textual, Porto Alegre, v. 1, n. 8, p. 33-42,
2006. Disponível em http://www.sinpro-rs.org.br/textual/set06/artigo_tecnologia.pdf
VALENTE, J. A. Informática na
educação: instrucionismo x construcionismo. Campinas: NIED/UNICAMP, 1998.
Video: O que é Cibercultura?
Andre Lemos. Disponivel em: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=hCFXsKeIs0w